Homossexualidade e catolicismo
A Igreja Católica Romana considera o comportamento sexual humano quase sacramental por natureza. Quaisquer ações relativas ao comportamento sexual homogenital são considerados pecaminosos porque atos sexuais, por natureza, são unitivos e procriativos - e assim devem continuar sendo. A Igreja também entende que a complementaridade dos sexos seja parte do plano de Deus para a humanidade. Atos sexuais entre pessoas do mesmo sexo são incompatíveis com essas crenças:
"Atos homossexuais são contrários à lei natural (...) Eles não vêem de uma complementaridade afetiva e sexual genuína. Não são aprovados sob nenhuma circunstância." [1].
Esses ensinamentos não são limitados à homossexualidade, mas também são a premissa geral para as proibições Católicas contra, por exemplo, fornicação, todas outras formas de sexo não-natural (sodomia), contracepção, pornografia e masturbação.
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Aceitação e compaixão
A Igreja declarou que desejos ou atrações homossexuais não são necessariamente pecaminosas em si mesmas. Eles são ditos "transtornos" no sentido de que são tentações para alguém fazer algo que é pecaminoso (isto é, o ato homossexual), mas tentações além do controle de uma pessoa não são consideradas pecaminosas. Por esta razão, enquanto a Igreja se opõe a tentativas de legitimizar atos sexuais entre pessoas do mesmo sexo, ela também oficialmente conclama respeito e amor por aqueles que têm atrações por pessoas do mesmo sexo.
Portanto a Igreja Católica se opõe a perseguição e violência contra os GLBT:
"O número de homens e mulheres que têm tendências homossexuais arraigadas não é ignorável. Esta inclinação, que é objetivamente um transtorno, constitui para muitos deles uma provação. Eles devem ser aceitos com respeito, compaixão e sensitividade. Todo sinal de discriminação injusta deve ser evitado. Essas pessoas são chamadas a levar a cabo a vontade de Deus em suas vidas e , se cristãos, a unir ao sacrifício da Cruz do Senhor as dificuldades que possam advir de sua condição."[2]
Para aqueles que têm atração por pessoas do mesmo sexo, a Igreja Católica oferece o seguinte conselho:
"Pessoas homossexuais são chamadas à castidade. Pelas virtudes do auto-controle que ensinam-nas liberdade interior, muitas vezes com o apoio de amizade desinteressada, pela oração e graça sacramental, eles podem e devem gradualmente e resolutamente se aproximar da perfeição cristã."[3]
A Igreja considera o chamado à castidade universal a todas as pessoas de acordo com seu estado na vida. No entanto, somente católicos heterossexuais têm a opção de expressar sua castidade através do amor no casamento.
Magistério de João Paulo II e Bento XVI
No dia 31 de agosto de 2005, o papa Bento XVI aprovou um documento eclesiástico segundo o qual, a igreja "não poderá admitir no seminário e nas ordens sagradas aqueles que praticam a homossexualidade, apresentam tendências homossexuais enraizadas ou apoiam o que se chama a 'cultura gay'". [4]
O documento transcreve o catecismo da Igreja Católica no que diz respeito ao tema:
- "No que respeita às tendências homossexuais profundamente radicadas, que um certo número de homens e mulheres apresenta, também elas são objectivamente desordenadas e constituem frequentemente, mesmo para tais pessoas, uma provação. Estas devem ser acolhidas com respeito e delicadeza; evitar-se-á, em relação a elas, qualquer marca de discriminação injusta. Essas pessoas são chamadas a realizar na sua vida a vontade de Deus e a unir ao sacrifício da cruz do Senhor as dificuldades que possam encontrar."[4]
Este posicionamento do Magistério e outros correlatos têm sido repetidos de modo indiscrepante, como é de se esperar de qualquer papa da Igreja Católica, e não constituem surpresa ou originalidade. [5] Da mesma forma, João Paulo II durante o seu longo pontificado diversas vezes escreveu e se pronunciou no mesmo sentido. Quanto à inclinação homossexual, a Carta Homosexualitatis problema afirma: «A particular inclinação da pessoa homossexual, apesar de não ser em si mesma um pecado, constitui todavia uma tendência, mais ou menos acentuada, para um comportamento intrinsecamente mau do ponto de vista moral. Por este motivo, a própria inclinação deve ser considerada como objectivamente desordenada»[6] [7] [8]
Em 3 de junho de 2003 a Santa Sé emitiu o documento "Considerações sobre os projectos de reconhecimento legal das uniões entre pessoas homossexuais" no qual é afirmado que:
- "Nas uniões homossexuais estão totalmente ausentes os elementos biológicos e antropológicos do matrimónio e da família, que poderiam dar um fundamento racional ao reconhecimento legal dessas uniões. Estas não se encontram em condição de garantir de modo adequado a procriação e a sobrevivência da espécie humana. A eventual utilização dos meios postos à sua disposição pelas recentes descobertas no campo da fecundação artificial, além de comportar graves faltas de respeito à dignidade humana, não alteraria minimamente essa sua inadequação."
- "Nas uniões homossexuais está totalmente ausente a dimensão conjugal, que representa a forma humana e ordenada das relações sexuais. Estas, de facto, são humanas, quando e enquanto exprimem e promovem a mútua ajuda dos sexos no matrimónio e se mantêm abertas à transmissão da vida."
- "Como a experiência confirma, a falta da bipolaridade sexual cria obstáculos ao desenvolvimento normal das crianças eventualmente inseridas no interior dessas uniões. Falta-lhes, de facto, a experiência da maternidade ou paternidade. Inserir crianças nas uniões homossexuais através da adopção significa, na realidade, praticar a violência sobre essas crianças, no sentido que se aproveita do seu estado de fraqueza para introduzi-las em ambientes que não favorecem o seu pleno desenvolvimento humano. Não há dúvida que uma tal prática seria gravemente imoral e pôr-se-ia em aberta contradição com o princípio reconhecido também pela Convenção internacional da ONU sobre os direitos da criança, segundo o qual, o interesse superior a tutelar é sempre o da criança, que é a parte mais fraca e indefesa."[9]
Debate na Igreja
Como se mostrou ser o caso com a maioria das denominações cristãs, os ensinamentos oficiais quanto à homossexualidade foram questionados por católicos leigos, teólogos proeminentes a clérigos ordenados da alta hierarquia. Freqüentemente, quaisquer indivíduos promovendo formas de dissidência ou discordância com a posição oficial da igreja foram removidos de suas posições de influência, se ordenados, e até, em algumas circunstâncias, excomungados. De forma geral, há um considerável debate dentro da Igreja Católica Romana - que tem um ensinamento claro e constante que tem sido imutável com relação a esta matéria, quanto à relevância da atual posição sobre a homossexualidade, alguns buscando sua reforma, outros buscando sua preservação.
Dissidência da posição oficial
Houve vários casos de indivíduos terem questionado ou promovido entendimentos diferentes da compatibilidade da fé católica romana com uma identidade ou estilo de vida homossexual. Exemplos importantes de teólogos que têm sido críticos das proclamações da igreja quanto à homossexualidade incluem o ex-padre católico Charles Curran, que foi subsequentemente removido da Catholic University of America (Universidade Católica dos Estados Unidos) Curran entendeu que era inapropriado analisar a moralidade de ações de uma perspectiva física, tendo escrito que:
Eu vim a aceitar a legitimidade moral de uma união de dois homens gays ou lésbicas... Eu rejeitei, pois não ía longe o bastante, o entendimento pastoral de algo ser objetivamente errado mas não subjetivamente pecaminoso. [10][11]
Curran também comentou que a Congregação para a Doutrina da Fé sistematicamente tentou silenciar autores críticos dos ensinamentos sobre a homossexualidade.
O padre católico James Alison argumenta que o entendimento proposto pelo Cardeal Ratzinger na obra Sobre o cuidado pastoral das pessoas homossexuais é "incompatível com o Evangelho" e sintetiza que "não pode ser o ensinamento da Igreja". Alison diz que:
Esse ensinamento está se interpondo entre o respeito a Cristo e nossa própria noção de ser, de uma forma que tende a perverter o respeito por um [Deus] que nos ama como somos, e sendo amados nós perceberemos que nos tornaremos alguém diferente. Está ensinando, ao invés, que Deus só nos amará se nós começarmos de outro lugar.[12] [13]
Além disso, em a Question of Truth, o padre Dominicado Gareth Moore critica a igreja por ser obcecada por assuntos sexuais e seu suposto 'significado' moral, argumentando que não poderiam na verdade não significar o que queremos que signifique. Moore conclui que: "... não há bons argumentos, nem da Escritura nem da lei natural, contra o que ficou conhecido como relacionamentos homossexuais. Os argumentos apresentados para mostrar que tais relacionamentos são imorais são ruins.[14][15]
Houve também acadêmicos que produziram publicações desafiando a maneira como a homossexualidade é tratada pelo catolicismo romano. O mais notável é possivelmente John Boswell, que escreveu o livro Christianity, Social Tolerance and Homosexuality (Cristandade, Tolerância Social e Homossexualidade), no qual ele se coloca contra o ensinamento contemporâneo da Igreja quanto à homossexualidade.[16] Na seqüencia do livro, Same Sex Unions in Pre Modern Europe (Uniões do Mesmo Sexo na Europa Pré-moderna), Boswell diz que que o próprio Jesus foi a uma cerimônia de união entre pessoas do mesmo sexo.[17]
Assim como discordância acadêmica na Igreja, houve também discordâncias práticas e ministériais no clero e hierarquia da Igreja. Um exemplo notável de católicos ordenados que causaram controvérsia devido a suas ações e ministério a homossexuais é o do Frei Robert Nugent e Jeannine Grammick, que criaram o New Waus Ministry, e foram ambos fortemente punidos pela Congregação para a Doutrina da Fé por causa de uma alegada ânsia para dissentir da posição oficial da igreja e até enganar pessoas homossexuais.
De forma parecida, os bispos estadounidenses Thomas Gumbleton da Archidiocese de Detroit e Matthew Clarke da Diocese de Rochester foram condenados por sua associação com o New Ways Ministry e a promoção do conceito teológico de primazia da consciência como alternativa ao ensinamento da Igreja.[18]
A disposição do bispo francês Jacques Gaillot de pregar uma mensagem sobre a homossexualidade contrária àquela da posição oficial é considerada um dos fatores que causou sua remoção dos deveres para com a diocese. [19]
Defesa da posição oficial
Por mais que haja dissidentes e vozes isoladas dentro e de fora da Igreja, protestos e reclamações acadêmicas ou não, menos ou mais indignadas que sejam, a posição oficial da Igreja sobre o tema da homossexualidade tem sido imutável ao longo dos séculos e vem sintetizada nos sucessivos catecismos que edita, de forma indiscrepante. Ela se funda no 6º Mandamento: "Não pecarás contra a castidade". Não há o menor indício em nenhum documento oficial da Igreja que permita pensar em alguma mudança sobre o que está disposto no Catecismo da Igreja Católica, por menor que seja.
Não há discordância considerável na Igreja Católica quanto ao assunto da homossexualidade, um grande número de clérigos e leigos defendem e promovem o entendimento oficial da homossexualidade que a Igreja tem e criticam aqueles que estão dispostos a revisá-lo, acreditando que isso seria contra as intenções de Deus e todos se mantém fiéis aos sucessivos ensinamentos dos papas.
A maioria dos bispos ordenados não expressou nenhuma discordância com o ensinamento da Igreja sobre a homossexualidade. No entanto, alguns obtiveram uma reputação pelo que é percebido como uma defesa apaixonada desses ensinamentos. Um exemplo é o do cardeal George Pell e cardeal Francis Arinze, que insistiram que a família como uma unidade é "ridicularizada pela homossexualidade" e "sabotada por uniões irregulares" ou do cardeal Eugênio de Araújo Sales que afirmou: "O cristão condena o que é contra a lei de Deus, mas acolhe o filho de Deus. Esse acolhimento não é sinônimo de aprovação do homossexualismo e evidentemente da “cultura gay”." [20]
O Magistério da Igreja Católica e a Cúria Romana não têm a intenção de revisar o ensinamento atual da Igreja e consideram que a promoção de qualquer outro ponto de vista seja dissidência do entendimento religioso aceitável.[21]
Durante a alocução por ocasião do Ângelus, em 9 de julho de 2000, o Papa João Paulo II, dirigindo-se aos fiéis na praça de São Pedro disse:[22]
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- "Em nome da Igreja de Roma, não posso deixar de exprimir profunda tristeza pela afronta ao Grande Jubileu do Ano 2000 e pela ofensa aos valores cristãos de uma Cidade, que é tão querida ao coração dos católicos do mundo inteiro.
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- A Igreja não pode deixar de falar a verdade, porque faltaria à fidelidade para com Deus Criador e não ajudaria a discernir o que é bem daquilo que é mal.
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- A respeito disto, desejaria limitar-me a ler quanto diz o Catecismo da Igreja Católica que, depois de ter feito observar que os actos de homossexualidade são contrários à lei natural, assim se exprime - "Um número não desprezível de homens e de mulheres apresenta tendências homossexuais. Eles não escolhem a sua condição de homossexuais; essa condição constitui, para a maior parte deles, uma provação. Devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza.
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- Evitar-se-á, em relação a eles, qualquer sinal de discriminação injusta. Estas pessoas são chamadas a realizar na sua vida a vontade de Deus e, se forem cristãs, a unir ao sacrifício da Cruz do Senhor as dificuldades que podem encontrar devido à sua condição "(n. 2358).
Recentemente a Igreja Católica, mais uma vez, com toda clareza excluiu a ordenação sacerdotal de homossexuais através de uma Instrução da Congregação para a Educação Católica, aprovada pelo Papa Bento XVI, em que é dito:
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- "À luz de tal ensinamento, este Dicastério, de acordo com a Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, considera necessário afirmar claramente que a Igreja, embora respeitando profundamente as pessoas em questão, não pode admitir ao Seminário e às Ordens sacras aqueles que praticam a homossexualidade, apresentam tendências homossexuais profundamente radicadas ou apoiam a chamada cultura gay.
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- Estas pessoas encontram-se, de facto, numa situação que obstaculiza gravemente um correcto relacionamento com homens e mulheres. De modo algum, se hão-de transcurar as consequências negativas que podem derivar da Ordenação de pessoas com tendências homossexuais profundamente radicadas."[23].
Apoio social
O cardeal Terence Cooke, como Arcebispo da Cidade de Nova York, viu a necessidade de um ministério que ajudaria católicos atraídos por pessoas do mesmo sexo a seguir, em conformidade com o Magistério Católico, os ensinamentos quanto ao comportamento sexual. Cooke convidou John Harvey a Nova York para começar o trabalho da Courage International com Benedict Groeschel, dos Franciscan Friars of the Renewal (Frades Franciscanos da Renovação). A primeira reunião foi em setembro de 1980 no Shrine of Mother Seton em South Ferry.
Referências
- ↑ Catecismo da Igreja Católica, parágrafo 2357(em espanhol)
- ↑ ibid., parágrafo 2358
- ↑ ibid., parágrafo 2359
- ↑ a b [1] Instrução sobre os critérios de discernimento vocacional acerca das pessoas com tendências homossexuais e da sua admissão ao seminário e às ordens sacras. Segundo o texto a ordenação sacerdotal não é um direito, mas uma vocação, e o fomento à homossexualidade "cria obstáculos a uma relação justa com homens e mulheres".
- ↑ Papa é contra aborto, manipulação genética e casamento homossexual
- ↑ Carta Homosexualitatis problema(n. 3)
- ↑ [2]Carta sobre a cura pastoral das pessoas homossexuais – Homosexualitatis problema
- ↑ Cf. Congregação Para a Educação Católica: A memorandum to Bishops seeking advice in matters concerning homosexuality and candidates for admission to Seminary (9 de Julho de 1985)
- ↑ Considerações sobre projectos de união
- ↑ Loyal Dissent, (Curran, 2006) pg. 72
- ↑ Versão original: I had come to accept the moral legitimacy of a union of two gay men or lesbians... I rejected, as not going far enough, the pastoral understanding of something being objectively wrong but not subjectively sinful.
- ↑ Versão original:This teaching is interposing itself between the regard of Christ and our own sense of being, in a way which tends to pervert the simple regard of one [God] who loves us as we are, and as loved we will find ourselves becoming someone different. It is teaching us instead that God will only love us if we start from somewhere else.
- ↑ On Being Liked, (Alison, 2003) pp. 106 - 106
- ↑ Versão original: "... there are no good arguments, from either Scripture or natural law, against what have come to be known as homosexual relationships. The arguments put forward to show that such relationships are immoral are bad."
- ↑ a Question of Truth, (Moore, 2003)
- ↑ Christianity, Social Tolerance and Homosexuality, (Boswell, 1976)
- ↑ Same Sex Unions in Pre Modern Europe, (Boswell, 1994)
- ↑ Bishops Lead Assault on Church Teaching, (Catholic World News, 20 March, 1997)
- ↑ Bishop's gay conference ban, (BBC News, 2 July, 2000)
- ↑ Artigo sobre Homossexualismo
- ↑ Arinze Address Provokes Faculty Reaction, (The Hoya, 24 October, 2003)
- ↑ Ângelus - Alocução, em 9 de julho de 2000
- ↑ http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/ccatheduc/documents/rc_con_ccatheduc_doc_20051104_istruzione_po.html
Castidade
Contemporaneamente, a castidade é muito mal compreendida. Isso é devido, por um lado, à cultura hedonista de inspiração freudiana. Com efeito, desde a revolução sexual tornou-se comum (ou socialmente aceita) a dissociação das funções unitiva e procriativa do ato sexual, reduzindo o sexo ao aspecto “lúdico”. Assim, qualquer restrição ditada pela castidade é tida como moralismo antiquado.
Em sentido oposto, a depreciação da castidade também provém de sua versão neoplatônica e estoica. Foi recorrente na história a propensão ascética a proibir o casamento e a abster-se de carne (cf. 1Tm 4,3). Taciano o Sírio (120-180 AD) é um expoente dessa tendência, pois se considera o fundador da heresia dos “encratistas” (“autocontrolados”), muito aparentada ao maniqueísmo e ao marcianismo.
O encratismo coalhou na moderna crítica ao amor cristão. Contudo, é preciso frisar que esse amor dissociado da carne só foi acolhido pela teologia protestante, como fica patente na obra do teólogo sueco luterano Anders Nygren (1890-1978), o qual consagrou a distinção entre eros e agape, reservando só este último para o verdadeiro amor cristão. A distinção foi acolhida por Bento XVI com ressalvas. Com efeito, o Papa ensinou em sua primeira Encíclica “Deus Caritas Est” que tanto eros quanto agape são aspectos do mesmo amor divino.
O celibato, que consiste na amorosa e indivisa oferta de si mesmo a Deus, é a forma mais excelente de castidade e encontra sua razão de ser num contexto de fé. Faltando apreço pela religião, eventualmente pode ser confundido com o encratismo. Também por isso a castidade vem sendo equiparada a uma “abstinência completa dos prazeres do amor”[1], o que é ilógico, pois existe uma castidade conjugal.
Virtude
A castidade é uma parte potencial da virtude da temperança (espécie da virtude da temperança).[2] Isso não significa que esteja desvinculada de outras virtudes humanas. Na verdade, a castidade se relaciona com qualquer manifestação da vida humana. Segundo Giulia Veronese "a castidade é mais do que a simples continência. A castidade sexual expressa a renúncia consciente e vigilante da sexualidade (entendida como exercício do sexo ou que pode conduzir a ele) por parte da pessoa, obedecendo a fins mais elevados. A castidade é o resultado normal de uma eleição humana; representa a exigente coerência com valores superiores, requer o compromisso pleno de si mesmo e o coração que quer permanecer na sua integridade. Pressupõe sempre uma consciência, mais ou menos clara, do valor da sexualidade na sua dupla finalidade de procriação e amor."[3]A castidade cristã =
Sendo a virtude que modera o prazer vinculado à propagação da espécie[4], a castidade recebe também a denominação de Santa Pureza porque se crê ser impossível vivê-la sem a ajuda do Espírito Santo: a pureza cristã é “pureza santa”, um dom do Espírito Santo. Nesse sentido, ensinava o Papa João Paulo II que a pureza “é a glória de Deus no corpo humano” (cf. Audiência, 18/3/1981). Em termos negativos, consiste na “energia espiritual que liberta o amor do egoísmo e da agressividade” (CONSELHO PONTIFÍCIO PARA A FAMÍLIA, Sexualidade Humana, verdade e significado, n. 16).Em relação à sexualidade, a Igreja Católica convida todos os seus fiéis a viverem na castidade, que é uma "virtude moral e um dom de Deus" que permite a "integração positiva da sexualidade na pessoa".[5] Esta integração tem por objectivo tornar possível "a unidade interior do homem no seu ser corporal e espiritual",[6] supondo por isso de "uma aprendizagem do domínio de si, que é uma pedagogia da liberdade humana. A alternativa é clara: ou o homem comanda as suas paixões e alcança a paz, ou se deixa dominar por elas e torna-se infeliz". "A virtude da castidade gira na órbita da virtude cardinal da temperança".[7]
Logo, "todo o baptizado é chamado à castidade" [8] porque a sexualidade só se "torna pessoal e verdadeiramente humana quando integrada na relação de pessoa a pessoa, no dom mútuo total e temporalmente ilimitado, do homem e da mulher",[6] ambos unidos pelo sacramento do Matrimónio (que é indissolúvel).[9] Por isso, os actos sexuais só podem "ter lugar exclusivamente no Matrimónio; fora dele constituem sempre um pecado grave".[10] Por estas razões, o sexo pré-marital, a pedofilia, "o adultério, a masturbação, a fornicação, a pornografia, a prostituição, o estupro" e os actos sexuais entre homossexuais são condenados pela Igreja como sendo "expressões do vício da luxúria".[11]
O verdadeiro amor conjugal e matrimonial, onde a relação sexual é vivida dignamente, só é possível graças à castidade conjugal.[12] Esta virtude permite uma vivência conjugal perfeita assente na fidelidade e na fecundidade matrimoniais, onde o Amor é vivido plenamente como uma comunhão de "dádiva mútua do eu, […] de afirmação mútua da dignidade de cada parceiro" e um "encontro de duas liberdades em entrega e receptividade mútuas". [13]. Na vivência deste amor, a sexualidade (e o sexo) torna-se "humana e totalmente humanizada", tornando-se também na grande expressão deste amor recíproco, onde o homem e a mulher se unem e se complementam.[13]
Para além da castidade conjugal (que não implica a abstinência sexual dos casados), existem ainda diversos regimes de castidade: a virgindade ou o celibato consagrado (para os religiosos, as pessoas consagradas, os clérigos, etc.), e "a castidade na continência" ou abstinência (para os não casados).[14]
Os regimes da castidade
Todo cristão é chamado à castidade. O cristão se há "revestido de Cristo" (Ga 3, 27), modelo de toda castidade. Todos os fiéis cristãos são chamados a uma vida casta segundo o seu estado de vida particular. No momento do seu Batismo, o cristão se compromete a dirigir a sua afetividade na castidade.Existem tres formas da virtude da castidade: a dos esposos, a das viúvas e a da virgindade. As relações sexuais somente serão castas dentro do matrimônio.
Castidade conjugal
Para os casados significa fidelidade ao cônjuge e aos compromissos assumidos no matrimônio. Para o casado significa, também — mas não só — manter-se fiel ao matrimônio. Até porque o conceito de fidelidade é, per se, muitíssimo mais abrangente do que o concebe a compreensão ordinária (popular, vulgar).Fidelidade é um atributo elevado, primeiramente da pessoa para consigo mesma, interior, de tal modo que "se alguém é fiel a outrem, certamente o é pelo fato de primeiramente o ser em seu íntimo. Pode-se mesmo fazer a seguinte inferência: quem é fiel (lato sensu) é casto e vice-versa.
Os esposos cristãos têm sempre presente que, segundo a doutrina de São Paulo, o matrimônio cristão é símbolo da união existente entre Cristo e a sua Igreja. O primeiro efeito deste amor é a união indissolúvel de corações, e por conseguinte, a inviolabilidade da fidelidade de um ao outro.
Os esposos devem respeitar a santidade do leito conjugal com a pureza de suas intenções e a honestidade de seu trato. Devem cumprir fiel e sinceramente o dever conjugal, pois tudo o que serve para a transmissão da vida é, não só lícito, como louvável, mas qualquer ato que se opuser a este fim primeiro constitui pecado grave.[15]
Continência
Para os solteiros que aspirem ao matrimônio requer abstenção absoluta (continência) até o casamento, significa portanto abstinência. Para o solteiro, castidade, pela sua abrangência conceitual, tem, também — e compreensivelmente — o sentido de de manter-se virgem (casto, puro), até o casamento, como se o entenda na cultura onde vive.A castidade oferece no cristianismo uma preparação espiritual para o sacerdócio, o matrimônio, a vida religiosa ou o celibato. O voto de castidade total é considerado obrigatório para os ministros consagrados (sacerdotes e bispos, assim como para as distintas ordens religiosas, tanto masculinas como femininas. Não obstante este voto absoluto não é requerido em outras igrejas cristãs como a protestante.
Segundo a moral cristã a castidade purifica o amor e o eleva, é a melhor forma de compreender e sobretudo de valorizar o amor.
Fidelidade é amor e respeito ao próximo e a Deus, é ser sincero aos seus compromissos e escolhas, é abnegação aos desejos da carne, a cobição pelo proximo e ao alheio. Ser fiel é ter compromisso, e não apenas envolver se.
Virtudes auxiliares da castidade
- O pudor, que protege a intimidade e consiste na vergonha nascida do temor de realizar um ato indecoroso ou indigno. É uma espécie de sentinela de defesa da castidade.
- A humildade, que faz desconfiar de si mesmo e confiar em Deus e fugir das ocasiões que põem em perigo a castidade.
- A mortificação que disciplina o amor ao deleite desordenado e ataca o mal pela raíz. A prática da sobriedade e às vezes do jejum ou de alguma penitência exterior.
- A laboriosidade, diligência e aplicação nos estudos e no cumprimento das próprias obrigações, que previne os males e perigos decorrentes da ociosidade.
- A caridade, ou seja o amor de Deus, que, enchendo o coração o desocupa de afetos desordenados (Deus caritas est).
- A piedade, virtude que leva à devoção e à oração. Os católicos costumam ainda cultivar a devoção à Virgem Maria como protetora da virtude da castidade que também a denominam de "santa pureza".[16]
As ofensas contra a castidade
Dentro da moral cristã são consideradas ofensas graves contra a virtude da castidade:- luxúria, que constitui uma busca desordenada do prazer venéreo, uma vez que é buscado exclusivamente por si mesmo.
- masturbação que é considerado um ato anti natura.
- fornicação, vista como relações sexuais fora do matrimônio e as relações pré-matrimoniais..
- homossexualidade, é considerada contraria à lei natural, fecha o ato sexual ao dom da vida.[17]
- pornografia, segundo a moral cristã "desnaturaliza a finalidade do ato sexual".
- violação e
- o incesto, são as principais ofensas contra a virtude da castidade.
Os santos e a castidade
Todos os santos, notadamente, os reconhecidos pela Igreja Católica, leigos ou religiosos, de alguma forma sempre fizeram a apologia da castidade, desde os primórdios do cristianismo até os dias atuais. São Josemaria Escrivá, canonizado no último decênio do século XX, por exemplo, deixou escrito sobre a castidade:-
- Que bela é a santa pureza! Mas não é santa nem agradável a Deus, se a separamos da caridade. A caridade é a semente que crescerá e dará frutos saborosíssimos com a rega que é a pureza. Sem caridade, a pureza é infecunda, e as suas águas estéreis convertem as almas num lamaçal, num charco imundo, donde saem baforadas de soberba. [18]
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- A caridade teologal surge-nos, sem dúvida, como a mais alta das virtudes. Mas a castidade é o meio "sine qua non", uma condição imprescindível para se atingir o diálogo íntimo com Deus. E quando não é observada, quando não se luta, acaba-se cego; não se vê nada, porque o homem animal não pode perceber as coisas que são do Espírito de Deus.
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- Nós queremos olhar com olhos limpos, animados pela pregação do Mestre: "Bem-aventurados os que têm o coração puro, porque verão a Deus." A Igreja apresentou sempre estas palavras como um convite à castidade. Guardam um coração sadio, escreve São João Crisóstomo, "os que possuem uma consciência completamente limpa ou os que amam a castidade." Nenhuma virtude é tão necessária como esta para ver a Deus. [19]
Referências
- ↑ HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, verbete castidade.
- ↑ Tomás de Aquino, Suma Teológica, 2-2q 141 a 1.
- ↑ Victor Garcia Hoz. Ed. Rialp, Madri, 1992.
- ↑ TANQUEREY, Adolphe. Compêndio de Teología Ascética y Mística, Madri: Edicionaes Palabra, 1996, pg.582.
- ↑ IGREJA CATÓLICA. Compêndio do Catecismo da Igreja Católica (em português). Coimbra: Gráfica de Coimbra, 2000. N. 488 p. ISBN 972-603-349-7
- ↑ a b IGREJA CATÓLICA. Catecismo da Igreja Católica (em português). Coimbra: Gráfica de Coimbra, 2000. N. 2337 p. ISBN 972-603-208-3
- ↑ Ibidem, n. 2339 e 2341
- ↑ Ibidem, n. 2348
- ↑ IGREJA CATÓLICA. Compêndio do Catecismo da Igreja Católica (em português). Coimbra: Gráfica de Coimbra, 2000. N. 346 p. ISBN 972-603-349-7
- ↑ IGREJA CATÓLICA. Catecismo da Igreja Católica (em português). Coimbra: Gráfica de Coimbra, 2000. N. 2390 p. ISBN 972-603-208-3
- ↑ IGREJA CATÓLICA. Compêndio do Catecismo da Igreja Católica (em português). Coimbra: Gráfica de Coimbra, 2000. N. 492 e 502 p. ISBN 972-603-349-7
- ↑ GEORGE WEIGEL. A Verdade do Catolicismo: Resposta a Dez Temas Controversos (em português). Lisboa: Bertrand Editora, 2002. págs. 102 p. ISBN 972-25-1255-2
- ↑ a b GEORGE WEIGEL. A Verdade do Catolicismo: Resposta a Dez Temas Controversos (em português). Lisboa: Bertrand Editora, 2002. págs. 101, 104 e 105 p. ISBN 972-25-1255-2
- ↑ IGREJA CATÓLICA. Catecismo da Igreja Católica (em português). Coimbra: Gráfica de Coimbra, 2000. N. 2349 p. ISBN 972-603-208-3
- ↑ Victor Garcia Hoz. Ed. Rialp, Madri, 1992; pg. 584.
- ↑ Oração da tradição católica: Ave maris stella | Virgo singularis | Inter omnes mitis | Nos culpes solutos | Mites fac et castos.
- ↑ Catecismo da Igreja Católica n. 2357 a 2359. "Atos homossexuais são contrários à lei natural (...) Eles não vêem de uma complementaridade afetiva e sexual genuína. Não são aprovados sob nenhuma circunstância."
- ↑ (Caminho, 119)
- ↑ (Amigos de Deus, 175)